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sábado, 7 de agosto de 2010

Patu Fu e seus brinquedos.




Grupo mineiro lança álbum de covers gravado com piano de brinquedo, sax de plástico e outras traquitanas.

O termo técnico talvez fosse “disco de covers”, pois o novo trabalho da banda mineira Pato Fu empenha-se em reproduzir à risca os arranjos originais de temas conhecidos nas vozes de Rita Lee, Roberto Carlos, Paul McCartney, Tim Maia, Elvis Presley, Temptations, Amelinha, Ritchie, Titãs, Paralamas do Sucesso, Pizzicato Five e B.J. Thomas. Mas a sonoridade, apesar de produzida à base da cópia, é totalmente diferente dos originais. Música de Brinquedo, como o nome ajuda a adivinhar, foi inteiramente gravado com o acompanhamento de instrumentos infantis e assemelhados.

De piano de brinquedo e sax de plástico a Genius e teclado-calculadora, vale todo instrumento que não seja “de verdade”. No site www.patofu.com.br, há um making of do disco, autoexplicativo quanto aos brinquedos e à graça e dificuldade de fazê-los tocar música, digamos, “séria”. “Deu muito trabalho. A gente não tinha domínio sobre os instrumentos”, afirma a vocalista da banda, Fernanda Takai, de 38 anos. “Tinha hora que alguém falava ‘não, é muito difícil’. Se não fosse John à frente, a banda teria desistido.”

Ela se refere a John Ulhoa, de 44 anos, seu marido, integrante do grupo e produtor do CD. John lança um argumento provocativo para justificar a ideia algo exótica e trabalhosa: “Para tocar esses instrumentos, tem que ter um descompromisso com a perfeição estética, tem que desligar a comichão de deixar tudo arrumadinho. A gente está precisando um pouco disso, as arestas andam tão aparadas que a música fica sem graça no final”. E explica um pouco mais: “Por ter ouvido de produtor, quando ouço música escuto o som da ferramenta que está sendo usada. Me dá um ‘eject’, um certo asco. Nosso disco é um contraponto à produção moderna, que chegou a um ponto saturado, asséptico”.

Mas isso é teoria, e ele próprio afirma que o disco não tem outra intenção senão divertir – divertir crianças, adultos e a própria banda, completada por e Lulu Camargo. John conta que a inspiração veio de um disco da série Classic on Toy que adquiriu nos anos 1990, no qual os personagens do desenho Snoopy apresentavam músicas dos Beatles tocadas em instrumentos de brinquedo. E lembra o velho Genius usado como sax barítono em Todos Estão Surdos. “Lulu precisava do som que o Genius dá quando a gente erra. Ele, que estudou música em Berkeley, tinha que ficar errando para gravar. É muito besta, mas divertido pra caramba”, diz, num elogio explícito ao “erro” e ao improviso em tempos de “perfeição” de pro-tools e outros milages tecnológicos.

Nina, filha de John e Fernanda, e seu amiguinho Matheus d’Alessandro, ambos com 6 anos, participam do disco todo, nos backing vocals. Demoraram três horas para gravar tudo que lhes cabia, segundo Fernanda. Nos shows – sim, o Pato Fu reproduzirá no palco a maluquice –, o grupo mineiro de bonecos Giramundo fará a vez dos pequenos, produzindo vozes não de crianças, mas de monstros Muppet, nas palavras de John. “Tem coisa quebrando já nos ensaios”, ele ri da encrenca de levar Música de Brinquedo ao palco. “Mas se quebra um elefantinho eu compro outro por R$ 15, não é como uma guitarra de US$ 2.000. Com R$ 50, volto com uma mala cheia de traquitanas.”

Lembrando que músicos costumam tratar as guitarras que compram como “brinquedinhos novos”, John evoca o pianinho de armário usado no disco: “Demos de presente para a Nina quando ela fez 4 anos. Ficou tocando nele um tempão, mas depois levei para o estúdio, usamos no disco da Érika Machado que produzi”.

Como essas historinhas demonstram, Música de Brinquedo forma uma nuvem de mistura entre o que é “coisa de adulto” e o que é “coisa de criança”. E, enquanto os adultos brincam, as crianças demonstram preocupações de gente grande com os erros cometidos em estúdio, como no texto lido por Nina em Todos Estão Surdos. Quando ouviu a gravação, ela percebeu que tinha falado “encarocalados”, em vez de “encaracolados”. “Expliquei que não estava certo, mas tinha ficado bom mesmo assim. Falei que não existe certo, nem errado”, diz Fernanda. “Na entrevista que faço com eles em 'Twiggy Twiggy', Matheus dizia que queria ter um peixe de estimação. Quando ouviu, perguntou: ‘Cadê a parte em que falo do meu peixe?’, tive que explicar que não coube. Eles já estão reclamando da edição!”, ela constata.

Em certos momentos, todo mundo ficou da mesma idade, como na hora de cantar "Frevo Mulher", de Zé Ramalho, sucesso com Amelinha em 1979. “Nina disse: ‘Não tô entendendo a letra, o que são outonos caindo secos no solo da minha mão?’. Falei: ‘Tudo bem, não precisa entender tudo, a gente também não entende’”, diverte-se Fernanda.

Música de Brinquedo dá continuidade à história de independência artística do Pato Fu. Como os discos anteriores, sai pelo selo do grupo, Rotomusic, e será distribuído diretamente pela fábrica, Microservice. Entre as dificuldades de entregar ao público um trabalho tão diferente do habitual, Fernanda cita a necessidade de acesso às rádios comerciais. “É difícil um disco como esse tocar no rádio, que é o que todo artista quer. Mas a gente não se limitou por essa possibilidade. Não dá pra ser medroso com 18 anos de estrada.” A disposição de arriscar tem sido sempre um dos diferenciais do Pato Fu – e os dados (de brinquedo) estão lançados mais uma vez.


O pulo do gato do Pato Fu

Não é difícil resistir em princípio à Música de Brinquedo proposta pelo Pato Fu. O CD simplesmente não cabe nas categorias e gavetas a que estamos acostumados. Se é um disco de pop-rock para jovens ou de MPB para tiozinhos, o que fazem lá pelo meio aquelas vozes indomáveis de crianças? Se é música para criança feita com brinquedinhos pueris, por que esse repertório de músicas adultas ("Frevo Mulher", de Zé Ramalho), tristonhas ("Rock and Roll Lullaby", sucesso de novela em 1972 com B.J. Thomas), românticas ("My Girl", de Smokey Robinson, eternizada pelos Temptations), rebeldes ("Ovelha Negra", de Rita Lee)?

Essa aparente confusão é o mais novo pulo do gato do Pato Fu. Eles partem de uma ousadia de base: fazer algo que não se encaixa em nenhum dos padrões atualmente definidos. Dito assim parece até ridículo um bichinho se assanhar (como cantariam os Saltimbancos de Chico Buarque), mas pense bem: quem por aqui tem ousado fazer qualquer coisa que rompa com os costumes mais corriqueiros ou desobedeça as normas mais bobas?

John, Fernanda, Ricardo, Xande e Lulu correm o risco, e provocam de quebra alguma perturbação entre os potenciais ouvintes do disco. Fernanda conta que já ouviu gente dizer que não gostou muito do disco, mas não vê a hora de ver como ficará no palco.

Para ouvidos adultos, o resultado sonoro talvez não soe mesmo extraordinário, mas está garantida a diversão de comparar arranjos e verificar como eles fizeram para reproduzir os metais de "Primavera (Vai Chuva)" (de Cassiano e Silvio Rochael, mais famosa na voz de Tim Maia) ou os solos de guitarra de "Ovelha Negra". O impacto da seleção pop das releituras (não, não são meros covers) é imediato para quem viveu a música dos anos 60, 70, 80 e 90 do século passado – caso especial de quem está pela faixa dos 40 anos, como os integrantes da própria banda.

Entre crianças, um dos baratos será descobrir músicas “velhas” e nunca ouvidas, tipo "Sonífera Ilha", "Ska" ou "Pelo Interfone", que não foram feitas exatamente para elas, mas adquirem de repente um sabor todo especial. Segundo Fernanda, já fazem sucesso entre os pequenos o vocal tipo vilão em "Live and Let Die" (originalmente um tema de James Bond composto por Paul e Linda McCartney) e o calafrio de terror no enigmático verso “um olho cego vagueia procurando por um”, de "Frevo Mulher". Por esse lado, Música de Brinquedo arrisca-se a tornar um clássico, mesmo sem ter o apelo direto e a unidade dos antigos e inesquecíveis A Arca de Noé e Os Saltimbancos.

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Aqui não se conta tudo, porque o tudo é um oco, é um nada. Se conta somente, e o somente não necessita de explicação.

Amanda Lemos