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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Morre aos 83 anos a soprano australiana Joan Sutherland.


Uma voz que desafiava todas convenções.

Vez ou outra surge no cenário uma cantora que desafia qualquer lógica sobre registros, tessituras e tudo o mais que se conhece sobre vozes. Foi assim com a soprano australiana Joan Sutherland, dona de uma trajetória ímpar na ópera do pós-guerra, encerrada na manhã de domingo, quando ela morreu em sua casa na Suíça, aos 83 anos.

Dona de um vozeirão, nos anos 50, ainda em sua Austrália natal, ela começou os estudos como mezzosoprano, voz de característica mais grave. Pouco depois, já na Inglaterra, foi diagnosticada como soprano dramática. Até que conheceu o maestro Richard Bonynge; os dois acabariam se casando mas, antes disso, ele já a marcaria profundamente ao convencê-la a mudar seu repertório mais uma vez, sugerindo a ela que se ocupasse de papéis do bel canto, em que o tamanho da voz não é tão importante quanto a agilidade.

O que isso tudo quer dizer, basicamente, é que ela foi, em alguns anos, de um extremo ao outro dos tipos de vozes existentes. E isso resultou em um timbre amplo, que ia do grave para o agudo com facilidade, o que lhe permitia explorar uma enorme gama expressiva, dando a ela controle total sobre os papéis que cantava. "O segredo está todo na capacidade de transitar entre as várias regiões da voz, indo do grave ao agudo, ou vice-versa, sem desvios ou lombadas no meio do caminho", disse ela em uma entrevista dos anos 80.

Sutherland conseguiu a façanha de fazer fama, a partir dos anos 60, com papéis que pouco antes haviam se tornado propriedade de Maria Callas. Foi Norma, Traviata, Lucia, Sonnambula, Lakmé. Diz a lenda que, durante o ensaio-geral de sua primeira Lucia no Covent Garden, em Londres, Callas foi levada à plateia pelo empresário Walter Legge. Ouviu toda a apresentação e, então, vaticinou: "Ela, se conseguir manter esse nível, terá uma grande carreira. Não tão grande quanto a minha, evidente, mas ainda assim uma carreira importante."

Se é verdade, difícil dizer, ainda que um comentário como esse seja a cara de Callas. Mas a previsão, enfim, se confirmou. Sutherland, em pouco tempo, viajou o mundo, se apresentando nos principais palcos da cena lírica. O contrato de exclusividade com o então poderoso selo Decca Classics lhe permitiu fazer registros de praticamente todo o seu repertório, com parceiros especiais como o tenor Luciano Pavarotti e a mezzosoprano Marilyn Horne. Ganhou, além do título de dama do Império Britânico, a alcunha de La Stupenda, dada pelo público e, na bolsa de valores do fã de ópera, muito mais valiosa.

Era uma voz quente, que emprestava intensidade ímpar à coloratura, envolvente; entre o grave e o agudo, seu longo alcance jamais sacrificava a delicadeza e graça, com atenção especial ao legato, a técnica de unir uma nota à outra, unificando o discurso musical. Não era, porém, uma grande atriz: seus vídeos a mostram pouco à vontade em cena - a atuação vinha toda da voz. Pavarotti disse certa vez que Sutherland era "a voz do século". Um pouco de exagero, mas sem dúvida o século da ópera teria sido mais pobre sem o enorme legado que ela nos deixa em gravações.

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Aqui não se conta tudo, porque o tudo é um oco, é um nada. Se conta somente, e o somente não necessita de explicação.

Amanda Lemos