• Frase da Semana :
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  • Ao final, não esperem uma verdade absoluta, pois terei que infelizmente lhes informar que não há. - Amanda Lemos -

domingo, 3 de julho de 2011

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Que dor é essa meu Deus ?
Que dor é essa que nunca passa ?
Que dor é essa que afugenta nossas esperanças ?
Que dor é essa que presencia a morte do outro aos poucos ?
Que dor é essa que petrifica ?
Que dor é essa que morfina nem sonda escassa ?
Que dor é essa que propicia o grito dos maus e cala a voz dos bons ?
Que dor é essa que um câncer provoca ?
Que dor é essa que a cada hora passada nos dilacera ?


Que dor é essa que clama por pedidos dolorosos uma salvação no meio da madrugada ?
Que dor é essa que só a morte resolve e que aos poucos retira a luz dos olhos teus ?


Que dor é essa que deveras sente ?


Por que meu Senhor ?




Por que temos que presenciar a morte de alguém aos poucos, aos segundos, não podendo lhe fazer nada, nem sequer tentativas vans de diminuir um dor literal que se passa em seu peito e nesse coração que passara a desconhecer a esperança e tampouco rezas fervorosas durante a noite ajudam, porque ?


Não o questiono meu Senhor, longe de mim tal heresia. Mas em meio a ausência de crer em possibilidades me permito apenas à perguntas eufóricas.


Por que?

Faça-me crer que é possível, já que nem estas frases e crases avulsas me restam mais, não diminuem a dor, apenas transportam o mínimo dela neste papel já ensopado de lágrimas.

Meu coração hoje pesa e chora, minhas mãos ficam atadas clamando por uma cura.

Câncer.

Não há.


Deixo agora algumas lágrimas caírem neste papel já enxurrado que me resta.

Imagino perdendo aos poucos uma tia, uma amiga, uma segunda mãe, uma segunda avó, um pedaço do coração.

Chamo por solução, não me ouvem, é surdo, ora vazio, ora escuro.
A morte será assim ?
Triste, calma, oca ?

Não me permita ouvir mais gritos de dor Senhor, não me permita ver olhos fechando para nunca mais serem abertos, não permita que percamos um anjo nesta terra  de alucinados que sem sombra de dúvida este anjo tinha uma missão a cumprir, e se não a conseguiu fazer, no mínimo a quase terminou, .
Não permita perde-La.
Não permita.

Não permita derramarmos lágrimas enterrando outro ente querido , outro alguém que já tomou lugar em meu coração.

Não me permita ser forte a ponto de ser orgulhosa e fechar os olhos frente ao problema.
Que ele não se dissipe, abra meus olhos.

Me permita olhar e crer que nada para o senhor é impossível.

Me permita a voltar à acreditar em fé, e se não é para tanto, quando não se tem, se inventa.
Adquire-se.

Me permita a equalizar o que é bom e que me faz bem.

Fecho meus olhos de toda maldade, meus ouvidos de toda calúnia e minha boca de toda blasfêmia.

E eu repito, quero ainda crer que é possível.
Crer no impossível.

Faça-me crer, faça-me crer.
Faça-me acreditar.



Encerro aqui com uma cabeça que pesa e um coração petrificado, excruciante.

Encerro sem ao menos saber da data de volta.

Perdoem-me.
 Não consigo, peço um tempo à vocês.
Deixem-me enxugar estas lágrimas, colocar um vestido novo, calçar meu salto 12 e voltar a estampar um sorriso torto no rosto.

Um até breve de um coração que passou a desacreditar no acreditar.


Texto de Amanda Lemos


Observação: Este texto foi escrito em uma manhã de domingo, dia 26/06.
Minha tia, Maria José, apelidada de “Dinha”,  portadora de câncer, acabou por falecer na segunda seguinte, dia 27/06, por volta das 13:00.

Presto homenagem à uma das pessoas mais magníficas que tive a oportunidade de conviver, um exemplo maior, sem definição menos merecedora.
Eu lhe agradeço por tudo, 
E pode ter certeza, Deus lhe guardou  um lugar  aonde a definição de perfeito ainda é pouco.
Eu sentirei uma falta sua que nem sequer cabe neste peito, ainda dolorido.
Meu último Adeus, ou melhor, um até breve.



16 comentários:

Rodrigo Alonso disse...

Bem gracinha o seu blog, parabéns! Dá uma olhadinha no que escrevo também?
http://munirvocedemim.blogspot.com
abraço!

Jéssica Lainne disse...

"Morrer deve ser como voar em um infinito, encontrar-se com estrelas, ver horizonte azul do céu, do mar. Deve ser como a flor murchando depois de encantar. Um som de harpa que você acha que vai escutar, mas aí é só silêncio, é lágrima, é lembrança." Pense que é algo bonito a morte e só assim a dor é menor. Infelizmente o câncer levou alguém muito querido de mim também, todos estamos sujeitos às doenças do mundo, mas lembre-se do que foi bom, pense em coisas boas para sua tia. E sinto muito por você, com o tempo a dor vai passar de você e só vai restar o que é bom, as lembranças. Abraço

PAULO TAMBURRO. disse...

AMANDA,

sou seu mais novo seguidor.

É um momento muito triste para você e todos nós, que também não sabemos a dor que nos espera amanhã.

Meus sinceros sentimentos de solidariedade, Amanda.

Quando vi sua postagem no Humor em Textos, pensei logo em acessar seu blog e fazer umas gracinhas, no entanto, realmente isto agora não teria graça nenhuma.

Um abração carioca.

Célia Gil disse...

Gostei muito de conhecer o seu blog e já o estou a seguir! Este texto tocou-me particularmente, pois estas questões já me passaram pela cabeça, só nas as verbalizei como você tão bem fez! Os meus pais faleceram os dois dessa mesma doença, um com 49 e outro com 53 anos, demasiado jovens! Continue a escrever assim, expressando tão bem o que vai na alma! Uma boa semana!

www disse...

Olá.
Quando dizes, "..um até breve.", é pq ainda acreditas.


Abraços..

Carlos Leite disse...

O seu blog é fantástico! Ainda não consegui formar uma opinião completa sobre si... Ainda não li tudo, mas do que li, está óptimo!!! Muitos parabéns e, obrigado por partilhar connosco a sua arte!
Se me permite irei seguir o seu blog.
Atenciosamente,
Carlos Leite, http://opintordesonhos.blogspot.com

Carla Fernanda disse...

Amanda também gostei do seu blog e especialmente desta homenagem para sua querida tia.
Que Deus a tenha!
Beijos,
Carla

Anita dos Anjos disse...

Amanda... Fiquei arrepiada e emocionada!
Eu não vou dizer que a dor vai passar, porque não vai... Talvez diminua com os anos, mas nunca passa quando perdemos alguém especial assim, perdi meu pai em 1996 e ainda dói tanto. Espero que continue acreditando e tenha certeza de que ela esta lá naquele lugar perfeito que Deus reservou para ela, olhando por ti e pelas pessoas que ela amava! Um beijo no seu coração, paz as tuas angústias e oração para acalentar seu coração!
Bye
Anita do diarios-do-anjo.blogspot.com

darocha disse...

Olá Amanda! Tardiamente vim visita-la e me deparei com seu texto e homenagem a sua Tia, que o senhor jesus a tenha e que ELE conforte seu coração, minha soliedariedade a ti fica bem e tenha uma boa noite.

Sergio disse...

As pessoas queridas que se vão deixarão muitas saudades; embora elas estejam sempre junto a nós.
Espero que fique bem.

Bjs!

Elvira Carvalho disse...

Vim agradecer a sua visita, lá no "A mulher e a poesia" e fui recebida por um texto triste, que muito me emocionou. Porque já tive vários familiares que perderam a batalha na luta contra esta malfadada doença, porque neste momento meu marido também está nessa luta, e porque às vezes também eu me questiono este texto foi como um murro no estômago.
Deixo o meu abraço de solidariedade.

Anônimo disse...

Eu sinto muito pelo ocorrido... Mas sei de uma coisa.. Quando alguém morre, ela vira uma estrela lá no céu, que fica nos olhando dia e noite, mesmo que a gente só veja ela brilhando de noite... Ela também está lá de dia, guiando e olhando tudo o que nós fazemos. Eu adorei o seu texto, muitas pessoas também. Serve como consolo para as pessoas que já passaram pela mesma situação que você está passando...

Adorei o blog e os textos anteriores, um beijo!

@hellswetri

Anônimo disse...

Olá Amanda!Gostei imensamente do texto poético, sua tia partiu,e fica a saudade e as boas lembranças no seu lindo coraçao.Adorei estar aqui.Vou seguir seu blog.Abraços e uma feliz semana.

E.A. disse...

Amanda,

O meu nome é Elisabete e escrevo no blogue Didascália.
Agradeço a visita e a mensagem.

Muito pouco do que se diz pode aliviar a dor nestas circunstâncias.
Eu lamento.

DBorges disse...

Sinto por essa perda, mas imagine que agora ela está num lugar melhor, sem dores e bem.
É mesmo muito duro perder um ente querido, mais duro ainda quando isso acontece por meio de uma doença como o Câncer. Minha avó, minha querida e linda avó faleceu dessa infeliz doença. Eu sofri demais, principalmente porque sempre estive por perto e acompanhei cada etapa, cada soco que a doença dava. Eu não sei como fui tão forte, como suportei vivenciar o sofrimento de minha avó. Não desejo essa maldita doença nem para meu pior inimigo.
Mas seja forte, precisamos ser.

Fiquei muito triste por ter lido seu relato, mas também fiquei feliz de ter lido isso aqui hoje e ter te conhecido, mesmo que virtualmente.

Beijo!
Sinta-se a braçada, minha querida.

By Me disse...

Compreendo a dor a mágoa...e ver sofrer torna-se mais doloroso...e nada poder fazer...para tornar a dor do outro suportável...mais doloroso se torna...mas assim se cumpre as leis da vida...contra isso nada a fazer...uma certeza podemos ter; um dia... tarde ou cedo cada um na sua vez vai morrer...
Um beijo e lamento o seu sofrimento...

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Aqui não se conta tudo, porque o tudo é um oco, é um nada. Se conta somente, e o somente não necessita de explicação.

Amanda Lemos